Paris, França 26/07/2011 12:38 (LUSA)
Temas: Política, Terrorismo, Massacre
Paris, 26 jul (Lusa) – O  atentado e tiroteio de sexta-feira “acordou a Noruega para uma ameaça  aos seus valores”, afirmou hoje um historiador norueguês à Agência Lusa.
“Infelizmente, foi  preciso que um louco matasse mais de 70 pessoas para a sociedade ouvir o  sinal de alarme”, declarou o historiador Steinar Aas, da Universidade  de Bødo (norte), entrevistado por telefone pela Lusa a partir de Paris.
“A Noruega é um lugar  estranho para acontecer isto”, afirmou o historiador, sintetizando o  choque e surpresa do país perante o duplo atentado de sexta-feira  perpetrado por um “fundamentalista cristão”, Anders Behring Breivik.
Pelo menos 76 pessoas  morreram, segundo o balanço oficial mais recente da explosão no centro  de Oslo e de um tiroteio num campo de férias na ilha de Utoeya, a norte  da capital.
A polícia norueguesa  pretende que Breivik, detido em Utoeya após hora e meia de tiroteio,  seja julgado por crimes contra a humanidade.
“O que eu quero é que ele  não tenha nenhuma atenção para as suas ideias e que o julgamento não  sirva de oportunidade para espalhar a sua ideologia diante de uma grande  audiência. Acho que esse era o principal objetivo dele”, afirmou  Steinar Aas, fazendo eco de um sentimento evocado pela imprensa que  segue os acontecimentos em Oslo.
“Não queremos sequer que o nome dele seja pronunciado”, acrescentou o historiador.
Steinar Aas sublinhou que  “a maioria das vítimas eram muito jovens” e que a Noruega vive “uma  tragédia nacional”, um sentimento que será ampliado quando, na próxima  semana, os corpos das vítimas forem enviados para as suas comunidades de  origem “em todo o país”, onde serão sepultados.
“Somos uma sociedade  pequena. Todos conhecem alguém que perdeu alguém nesta tragédia. A minha  filha foi para Oslo com uma amiga cuja irmã está gravemente ferida no  hospital por ter levado três tiros em Utoeya”, referiu Steinar Aas.
“Além da monstruosidade  das ideias de Breivik, há a maldade da execução. As balas que ele usou  foram feitas para causar o maior dano possível no corpo da vítima”,  salientou o historiador, falando com emoção.
“Talvez dentro de vinte  anos ‘ele’ tenha noção do que fez e possa falar do perigo das suas  ideias radicais. Talvez isso fizesse diferença. Mas, por enquanto,  (Breivik) aparece muito frio e satisfeito”, assinala Steinar Aas.
“É chocante que um ataque  destes tenha acontecido na Noruega, onde os grupos de extrema-direita  nunca foram moralmente aceites pela sociedade e onde os grupúsculos  neonazis nem sequer se manifestam em público, como por exemplo na Suécia  ou na Alemanha”, declarou Steinar Aas.
A Noruega foi invadida pela Alemanha nazi em abril de 1940 e ocupada militarmente até à capitulação alemã em maio de 1945.
“Depois da guerra, houve  um grande julgamento e todos os colaboracionistas foram condenados. Até  mesmo os militantes de base do Partido Nazi Norueguês receberam  sentenças de prisão”, recordou Steinar Aas, que tem estudado diferentes  aspetos da ocupação e do ambiente ideológico no país durante a guerra  fria.
Steinar Aas reconhece, ao  mesmo tempo, que nos últimos anos o extremismo ganhou terreno no  parlamento e que “os partidos ‘mainstream’ têm sido especialmente duros  em relação às comunidades islâmicas”.
O historiador salienta  que a islamofobia se refletiu nas análises das forças de segurança, que  identificaram alguns elementos islâmicos como ameaças à segurança  nacional, descurando o perigo do radicalismo nacionalista.
Steinar Aas recorda o  caso de Mullah Krekar, um curdo iraquiano acolhido em 1991 pela Noruega e  que foi mais tarde julgado por terrorismo e violação da lei de asilo.  “Vários partidos políticos fizeram campanha pela sua extradição”.
PRM
Lusa/Fim
ENTREVISTA/Noruega/Atentado: Tragédia “é o 11/9 norueguês” – historiador
Número de Documento: 12855053
Paris, França 26/07/2011 12:38 (LUSA)
Temas: Política, Terrorismo, Massacre
Paris, 26 jul (Lusa) – O  duplo atentado que provocou 76 mortos numa explosão e num tiroteio, na  sexta-feira, “é o 11 de Setembro norueguês” e terá reflexos eleitorais,  afirmou hoje um historiador à Agência Lusa.
Steinar Aas, da  Universidade de Bødo (norte da Noruega), declarou também que a reação  política ao atentado será provavelmente “uma vitória do Partido  Trabalhista e um recuo significativo do Partido Progressista” (direita)  nas eleições legislativas de setembro.
Nesse sentido,  acrescenta, a chacina causada por Anders Behring Breivik produzirá o  efeito político contrário ao pretendido no seu manifesto de 1.500  páginas, um programa de direita radical para a Noruega e a Europa.
“As pessoas foram  recordadas do que são os valores desta sociedade. Muitos noruegueses  neste momento estão a interrogar-se muito dentro de si próprios se  pensaram em algum momento alguma coisa que tenha ‘ajudado’ os planos de  Breivik”, resumiu Steinar Aas, sintetizando a “introspeção” em que  mergulhou a Noruega.
O historiador assinala, a  propósito, que “é assustador para muita gente pensar nas ideias  subliminares que têm pontos de contacto com a ideologia de Breivik”,  marcada pela fobia do Islão e a defesa de uma “pureza” cultural  europeia.
“Nos últimos vinte anos,  tornou-se aceitável falar à vontade de certas ideias. Isso acabou agora,  porque a Noruega acordou para a ameaça aos seus valores”, acrescentou  Steinar Aas.
O historiador sublinha  que “as pessoas deviam votar segundo o debate de ideias e não com base  nas suas emoções, mas é verdade que o facto de o massacre ter ocorrido  num campo de férias do Partido Trabalhista e a resposta do  primeiro-ministro aos acontecimentos vai aproximar muitos eleitores”.
Steinar Aas levanta mesmo  a hipótese de haver algum debate sobre a interdição do Partido  Progressista, a segunda maior formação parlamentar, nas próximas  eleições.
“As pessoas não são parvas. Esta tragédia foi um terrível sinal de alarme”, resume o historiador.
Steinar Aas recorda que a  Noruega “é um país cujo feriado nacional comemora um conjunto de  ideias, transcritas numa constituição, em vez de comemorar homens ou  batalhas”.
São essas ideias e  valores que, neste momento, são identificadas emocionalmente com um  partido e com o chefe do governo, Jens Stoltenberg, “um homem que esteve  à altura da resposta exigida num momento destes”.
Ao mesmo tempo, Steinar  Aas assinala o lado que designa por “chauvinismo nórdico”, uma vez que,  “mesmo depois de se saber que foi um norueguês, loiro e de olhos azuis, a  fazer aquela loucura, o ponto de comparação das pessoas continuam a ser  os atentados da al-Qaida”.
Para o historiador,  “ninguém comparou (os acontecimentos de Oslo e Utoeya) com os atentados  da ETA ou do IRA e com o facto de na Europa o terrorismo ser em geral  feito por europeus”.
Steinar Aas assinalou, a  propósito, que a Noruega “tem uma grande ideia de si própria”, como  confirmou a repercussão de um falso “post” no Facebook atribuído ao  Presidente Barack Obama.
“Neste momento, eu  considero a Noruega o maior país do mundo. Nunca vi nada assim”, dizia o  “post”. “Era falso mas foi de imediato circulado como um rastilho, em  primeiro lugar graças a uma ligação através da página da modelo Jenny  Skavlan, que tem 16.000 seguidores”, frisou Steinar Aas.
 
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